Em 8 de janeiro, o Instituto Mundo Novo completou 21 anos de existência e, no último 13 de janeiro, fomos surpreendidos com mais uma das muitas enchentes que já testemunhamos neste território. A pior delas ocorreu em março de 2020, antes da pandemia, quando parte da Chatuba ficou ilhada por dias. É importante mencionar que a Chatuba é um verdadeiro complexo, composto por muitos sub-bairros, onde a desigualdade é evidente dentro do próprio território. Este complexo abrange mais de um morro, sua parte alta e a beira do rio, formando um bairro muito extenso, com mais de 50 mil habitantes.
A missão do Instituto sempre foi centrada em proporcionar educação de qualidade, pois acreditamos firmemente que a educação é o caminho para a libertação. Ela capacita as pessoas a se tornarem protagonistas de suas próprias histórias, rompendo ciclos de pobreza, miséria, traumas e sofrimentos. Embora pareça um clichê, é crucial reconhecer que em regiões de pobreza e miséria existem inúmeras dores e traumas que impedem o progresso individual. Muitas famílias acabam presas em ciclos de sofrimento, perdendo a esperança em dias melhores. Na maioria das vezes essas pessoas não foram verdadeiramente apoiadas quando precisaram, e consequentemente, elas mesmas não acreditam em seu próprio potencial, sentindo que não merecem algo melhor.
Ao longo desses 21 anos de atuação, nunca buscamos destacar os extremos do sofrimento, tampouco usamos isso como estratégia de publicidade. Pelo contrário, sempre nos empenhamos em mostrar os casos de sucesso, superação, resultados e impactos positivos de nossas ações. No entanto, é importante reconhecer que por trás dessas conquistas existe um longo caminho de apoio humanitário para que as famílias possam ter uma nova chance de recomeçar. Inicialmente, concentramos nossos esforços em proporcionar apoio para que possam virar a página, promovendo uma mudança de mentalidade e, consequentemente, direcionando nossas ações para o desenvolvimento pessoal.
O fato é que as famílias que buscam o Instituto Mundo Novo o fazem em busca de socorro, na maioria das vezes para saciar a fome e garantir o básico para seus filhos. Elas acreditam que ao matricularem seus filhos terão acesso a alimentação e assistência, e de fato estão certas.
A fome é uma realidade presente dentro do território e a insegurança alimentar é uma questão tangível. As escolas, o Instituto, a presença de movimentos sociais e igrejas locais representam a esperança para as pessoas em busca de comida e oportunidades. Os efeitos da fome estão diretamente relacionados à gravidez na adolescência, baixa escolaridade, analfabetismo, famílias numerosas e desemprego, entre outros fatores. As mulheres, sempre muito afetadas, muitas vezes não conseguem concluir os estudos, acabam engravidando precocemente e enfrentam dificuldades para conseguir emprego ou vagas em creches, o que contribui para o ciclo de pobreza. As crianças crescem sem acesso à alimentação adequada, educação de qualidade e em ambientes propícios ao seu desenvolvimento. Elas vivem em locais insalubres, sem acesso a água limpa e, na maioria das vezes, sem acesso a água encanada ou banheiros adequados. Essa situação leva à desnutrição, dificuldades de aprendizado, problemas de saúde e uma série de outras questões que se agravam ao longo da adolescência, iniciando assim um ciclo de repetição. Nos 21 anos de existência do Instituto Mundo Novo, milhares de crianças foram resgatadas e suas famílias tiveram a oportunidade de transformação. Ao longo desse período, o Instituto acumulou histórias de sucesso e superação.
Infelizmente, ainda há muito a ser feito. Com o agravamento da fome e das muitas mazelas pós-pandemia, surgiu a necessidade de uma abordagem mais abrangente e significativa, olhando para além dos muros. Anteriormente, os apoios emergenciais e humanitários eram direcionados às famílias a partir de um enfoque centrado nelas. Agora, as ações contra a fome assumiram um novo formato. Durante a pandemia, criamos o projeto "Combate à Fome", que evoluiu para o “Programa de Desenvolvimento Social Local”. Esse programa adota uma visão mais ampla da comunidade, incluindo o mapeamento das áreas mais carentes e o apoio às famílias nas regiões de difícil acesso, como as localizadas no alto do morro e em áreas remotas.
Durante esse período, o programa estabeleceu grupos prioritários, beneficiando mais de 10 mil famílias cadastradas. É quase inacreditável que, durante a pandemia, o Instituto tenha distribuído mais de 300 cestas básicas por dia, chegando a atingir 500 cestas em alguns dias, com mais de 2.000 atendimentos diários. Um esforço conjunto de professores, pedagogos, coordenadores, artistas, voluntários e toda a equipe se uniu em uma única missão. Diariamente, eram descarregados de 2 a 3 caminhões, e as filas de pedidos de ajuda só aumentavam.
Uma das partes mais desafiadoras foi antecipar como seria a vida dessas pessoas após o fim da pandemia e a retomada das aulas. Quando as atividades escolares foram retomadas, as doações diminuíram drasticamente. Passamos a receber apenas 50 cestas mensais de um único parceiro, e somente em 2023, mais 20 de um novo parceiro, totalizando apenas 70 cestas mensais. No entanto, nossa esperança e determinação em manter o trabalho humanitário permanecem inabaláveis.
À medida que a situação começou a se normalizar, as pessoas continuaram batendo em nossas portas, e, embora estivéssemos tristes, mas tínhamos esperança viva. Foi nesse momento que o programa começou a ganhar forma. Dividimos os grupos prioritários e passamos a segmentar as ações. Criamos um consultório de fonoaudiologia e psicologia para fornecer suporte aos casos mais extremos que observamos durante a pandemia. Muitas crianças, alunas da escola municipal, ficaram quase dois anos sem estudar, o que afetou sua fala, desenvolvimento, saúde mental e outras necessidades.
Com o apoio do Instituto PHI, em 2022, o programa de desenvolvimento local iniciou suas primeiras ações. Estabelecemos como meta inicial a melhoria das condições de moradia das famílias que vivem em extrema pobreza. Além disso, iniciamos o consultório de fonoaudiologia e psicologia para crianças e suas famílias no projeto. Implementamos rodas de conversa nos grupos prioritários formados, que incluíam bebês, primeira infância, idosos, mulheres com mais de 40 anos, pessoas acamadas e pessoas com deficiência. Também oferecemos apoio para o curso de economia criativa e a estruturação do Ateliê Mundo Novo, visando a geração de renda e a emancipação de mulheres e jovens.
Com o apoio da Profarma, conseguimos manter 50 famílias recebendo cestas básicas e fornecer centenas de famílias com fraldas, leite especial e itens de higiene pessoal. Além disso, agora também contamos com o apoio da Álamo Benefícios, que está fornecendo 20 cestas básicas mensais.
Desde então, começamos a considerar novas estratégias para manter o apoio às famílias dos grupos prioritários, mesmo que em uma escala reduzida. No entanto, com as recentes enchentes de 2024, ficou evidente o quão urgente e necessário é dar um novo impulso a esse projeto, com maior intensidade, consistência e abrangência. É viável, mas agora precisamos de novos apoiadores para garantir a continuidade do trabalho. Pensando nisso, registramos mais de 800 famílias afetadas e realizamos um mapeamento das ruas impactadas. É importante ressaltar que, na maioria das vezes, as mesmas ruas são afetadas em todas as enchentes, evidenciando um problema constante na região.
Com o apoio do Instituto da Criança, conseguimos fornecer mais de 2.000 refeições em uma semana de atendimento, acompanhadas de kits de higiene e limpeza, além da doação de 150 cestas básicas para as famílias. Além disso, o Instituto da Criança contribuiu com 25 colchões novos, 47 engradados de água e 50 caixas contendo itens de higiene e perfumaria. O grupo ProFarma, da Rede Drogasmil, também se engajou na causa, doando 100 cestas básicas, além das 50 que enviam mensalmente, juntamente com leites especiais, fraldas e centenas de itens de higiene, incluindo 100 kits escolares. O Instituto PHI colaborou com 100 camas novas (50 camas de solteiro e 50 camas de casal), 150 pacotes de leite, 150 pacotes de fraldas infantis e 150 pacotes de fraldas geriátricas. A Álamo Benefícios contribuiu buscando doações de roupas e doou mais 20 cestas básicas para a causa. Por fim, o Sesc Mesa Brasil prestou apoio com a doação de panetones, alimentos, verduras, legumes e pães, beneficiando centenas de famílias e também ajudando no preparo das refeições servidas para a comunidade.
Não podemos deixar de destacar tantas pessoas físicas e jurídicas incríveis que se uniram a nós neste início de 2024!
Agradecemos imensamente aos voluntários, aos comércios locais, às igrejas, às empresas e doadores em geral que nos apoiaram durante essas primeiras semanas de janeiro e fevereiro, seja através de doações de recursos, roupas, itens diversos, ou através da divulgação e participação ativa conosco.
Estas ações não podem parar. Por isso, contamos com o apoio de todos para levantar nossa base humanitária de forma mais consistente e com um trabalho mais organizado e significativo.
Se você deseja se tornar um apoiador, patrocinador ou voluntário na estruturação da nossa Base Humanitária para combater a fome e as desigualdades sociais, entre em contato conosco! Esse é um convite especial para que você se junte a nós nesse projeto cujo principal objetivo é combater a fome e as desigualdades sociais.
Nossas principais necessidades são:
Voluntários para mobilização de recursos, organização, coordenação de ações, liderança na criação de tecnologias sociais, e voluntários para obras e construções.
Mais de 500 cestas básicas mensais.
Itens de higiene e limpeza em geral.
Enxoval de bebês.
Leites especiais.
Material escolar.
Fraldas infantis e geriátricas.
Itens para diabéticos.
Suplementos e vitaminas.
Itens domésticos em geral.
Materiais de construção em geral.
Se você ou sua empresa puder contribuir com qualquer um desses itens, sua ajuda será muito bem-vinda e fará uma grande diferença em nossos esforços para combater a fome e as desigualdades sociais. Entre em contato conosco para saber como pode ajudar.
Nossas metas são as seguintes:
Contratação de 1 assistente social para atuar com as famílias.
Beneficiar mais de 1000 famílias anualmente com alimentação, itens de higiene e outros cuidados básicos.
Acompanhar 500 famílias anualmente por meio dos grupos prioritários, oferecendo atendimentos pontuais para o desenvolvimento social.
Realizar visitas e mapeamento das famílias vulneráveis ao longo do ano para acompanhamento, além de manter uma base de dados e realizar pesquisas sociais locais.
Beneficiar aproximadamente 250 famílias por meio do consultório de psicologia e fonoaudiologia.
Reformar e realizar pequenas melhorias em 4 moradias por ano com investimento do Instituto PHI.
Essas metas refletem nosso compromisso em fornecer suporte abrangente e contínuo às famílias em situação de vulnerabilidade, visando promover seu bem-estar e desenvolvimento social. Estamos empenhados em alcançar esses objetivos com a ajuda de nossos parceiros e voluntários.
Bianca Simãozinho é idealizadora e fundadora do Instituto Mundo Novo.
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